sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ANATOMIA

Aristóteles estudou muito os animais e foi, por assim dizer, o fundador da anatomia comparada. Por volta de 300 a.C., começou-se a estudar em Alexandria (Egito) os cadáveres de criminosos justiçados. Foi nessa época que pontificou Herófilo, o maior dos anatomistas gregos. Antes dele a anatomia era mais especulativa do que descritiva. Dissecando o corpo humano, Herófilo dava à anatomia uma base realmente concreta. Estudou o cérebro e o reconheceu como o centro do sistema nervoso e a sede da inteligência; distinguiu os nervos motores dos sensitivos; demonstrou que a aorta e as artérias continham sangue e não ar; descreveu os vasos linfáticos do intestino.
Erasístrato, nessa época, acreditava que as artérias continham ar ou spiritus vitalis e suspeitou que os ramos terminais das artérias e veias eram ligados por tubos menores, fora dos limites da visibilidade. Foi o primeiro a afirmar que as veias, à semelhança das artérias, faziam centro no coração e não no fígado. Descreveu as válvulas do coração. Com a morte de Herófilo e de Erasístrato, a anatomia entrou numa fase de declínio, para ressurgir no início da era cristã, com Marino, que viveu em Roma, no tempo de Nero, e com Rufo, de Éfeso, cujos estudos, a exemplo dos de seus antecessores, que não podiam trabalhar em cadáveres humanos, foram feitos em animais. Rufo descreveu o timo, o quiasma óptico, o pâncreas e as trompas uterinas. Marino não deixou escritos; suas lições se preservaram através de seu discípulo, Galeno.
Com grande habilidade, Galeno dissecava corpos humanos e de animais, escrevia e ensinava. De seus escritos, muitos se perderam, restando, entretanto, 59 publicações sobre anatomia, com destaque para De musculi dissectione (Sobre a dissecação do músculo), de clareza e precisão surpreendentes. Muito do que ele sabia sobre ossos e articulações procede de Marino. Seus livros ainda são lidos com interesse e alguns nomes por ele dados a ossos, nervos e outras partes do corpo persistem. Depois de Galeno passou-se a estudar mais nos livros do que na própria natureza.
O escolasticismo medieval fez de Galeno e Aristóteles autoridades absolutas. A dialética metafísica dominava sobre a observação objetiva. Em algumas universidades foi proibida a pesquisa, sendo punidos os médicos que ousassem discordar de Galeno. Os artistas estimularam os estudos de anatomia, pois queriam representações exatas do corpo. No Renascimento, Leonardo da Vinci, Albrecht Dürer, Michelangelo e Rafael realizaram dissecções.
Leonardo começou fazendo medições dos músculos e se tornou um anatomista, chegando a realizar trinta autópsias, mais de 750 desenhos anatômicos e 120 cadernos de apontamentos sobre anatomia. Muitos dos achados de Leonardo foram confirmados por anatomistas posteriores. Seu trabalho preparou o caminho para o "restaurador da anatomia", o médico flamengo Andries van Wesel, conhecido como Andreas Vesalius, cujo grande livro sobre o assunto foi publicado 24 anos depois da morte de Leonardo. De Vesalius a Harvey. Vesalius inicia o segundo período da evolução histórica da anatomia. Em 1533, com a idade de 19 anos, foi para a Universidade de Paris, onde estudou medicina sob a orientação do famoso Jacques Dubois, mais conhecido pela latinização de seu sobrenome, Sylvius.
Colou grau em Pádua, onde se tornou famoso por sua habilidade e conhecimento de anatomia e cirurgia. Em 1537, assumiu a cadeira de cirurgia e anatomia da universidade, e foi o primeiro a receber salário como professor de anatomia, função em que se notabilizou, corrigindo os erros cometidos por Galeno. Em 1543 publicou a obra De humani corporis fabrica libri septem (Sete livros sobre a estrutura do corpo humano), que apresentava pela primeira vez, em belas e exatas ilustrações, as estruturas do corpo. Essa obra revolucionou a ciência médica da época, imprimindo-lhe enorme progresso (o departamento de anatomia da Universidade de São Paulo possui um exemplar original da primeira edição do livro).
Depois que Vesalius deixou Pádua, a cadeira de anatomia foi ocupada por cinco eminentes anatomistas. O primeiro foi seu assistente Realdo Colombo. Vieram depois Gabriello Fallopius, Hieronymus Fabricius ab Aquapendente (Geronimo Fabrizio), Giulio Casserio (Casserius) e Adrian van der Spigelius. Em Bolonha, Jacopo Berengario da Carpi contribuiu para o conhecimento do apêndice e do timo. Giulio Aranzio (Arantius) estudou o coração e Costanzo Varoli descreveu o cérebro (pons Varolii). Em Roma, Bartolomeo Eustachio (Eustachius) fez muitas descobertas.
Sua fama, aliás póstuma, adveio de seus magníficos desenhos anatômicos. Foi dos primeiros a reproduzi-los em cobre e não em madeira. Na França, Jacobus Sylvius (Jacques Dubois) contribuiu para o conhecimento dos ossos da cabeça e para a reforma da nomenclatura anatômica. Na Suíça, Felix Platter escreveu magnífico trabalho sobre o olho. Na Inglaterra, Thomas Vicary publicou, em 1548, um pequeno livro, Anatomie of the Bodie of Man (Anatomia do corpo humano), talvez o primeiro livro de anatomia em língua inglesa. William Harvey (1578-1657), depois de quatro anos com Fabricius, retornou à Inglaterra e se dedicou especialmente ao estudo da circulação. Aprendeu tudo sobre o coração, juntou os fatos, acrescentou observações e assentou os princípios da circulação do sangue, com isso revolucionando a ciência médica.
Foi anatomista e fisiologista, escrevendo o livro Exercitatio anatomica de motu cordis (Exercício anatômico sobre o movimento do coração). Chegou a afirmar que o sangue passava das ramificações arteriais para as ramificações venosas. Passou o resto de sua vida buscando identificar os capilares e, embora não os tivesse observado, previu sua existência. Quatro anos após a morte de Harvey, em 1657, Marcello Malpighi conseguiu ver pela primeira vez os capilares sangüíneos num preparado de pulmão de rã. De Harvey a Darwin. O terceiro período, especialmente no século que sucedeu à fase de Harvey, se tornou a idade heróica da anatomia microscópica e da embriologia.
Esse período se caracterizou pela fundação de sociedades científicas e filosóficas, publicações de textos, atlas, criação de museus, escolas de anatomia, etc. As investigações anatômicas foram em grande parte realizadas pelos cirurgiões. J.G. Wirsung e um colaborador descobriram o canal pancreático; O. Rudbeck, da Suécia, e T. Bartholinus, da Dinamarca, identificaram, independentemente (em 1651 e 1652, respectivamente) o sistema linfático e sua terminação nas veias do pescoço, embora as pranchas de Eustachius já os tivessem exibido. Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin, sobre a origem das espécies, revolucionou as ciências biológicas.
Aristóteles e Harvey pressentiram essa descoberta; os paleontologistas e os estudiosos de anatomia comparada chegaram a colher dados prenunciadores. Mas foi preciso a inteligência e o espírito de síntese de Darwin para que se concluísse que os seres vivos estavam ligados por traços de hereditariedade. Baseando-se em fatos anatômicos, a teoria de Darwin foi aos poucos se valorizando e acabou amplamente aceita antes do fim do século XIX. Isso uniu a anatomia humana com a dos animais e das plantas. Daí por diante as ciências biológicas descortinaram um campo imenso de investigações fundamentadas na anatomia. As pesquisas não mais se limitaram ao corpo humano.
O estudo dos cromossomos em moscas e os experimentos do monge austríaco J. G. Mendel em híbridos de ervilhas trouxeram imensa contribuição ao conhecimento da hereditariedade. Os mamíferos inferiores constituíram campo fértil para o estudo dos processos vitais do homem. A anatomia na atualidade. Durante séculos a dissecção fora perigosa. Atualmente, pode ser realizada com segurança, graças aos recursos existentes para a assepsia e preparo do cadáver.
No século XX, a linha de investigação se faz no sentido de estudar no ser vivo, e não apenas no cadáver. Por meio da radioscopia (fluoroscopia), é possível observar os órgãos internos em movimento; as radiografias fixam os aspectos mais variados das estruturas superficiais e profundas. Atualmente, técnicas como os raios X, o ultra-som, a ressonância magnética e a tomografia computadorizada simplificam bastante o estudo da anatomia, permitindo a clínicos e cirurgiões observarem a máquina humana em funcionamento. Os velhos métodos de estudo da anatomia e o equipamento singelo de antigamente já não satisfazem.
Hoje estuda-se a anatomia de todas as espécies de animais, com as mais variadas técnicas, em inúmeros laboratórios universitários. Os departamentos de pesquisa das melhores universidades dispõem de espaço e equipamento para investigações em muitos campos: anatomia microscópica (com o microscópio eletrônico), citologia (com centrífugas, aparelhos para rápida fixação em ar líquido e para irradiação de tecidos); cultura de tecidos; embriologia; fluoroscopia. Nomenclatura anatômica
Chama-se nomenclatura anatômica ao conjunto de termos empregados para indicar e descrever as partes do organismo; é a base da linguagem anatômica. Compreende termos que indicam a situação e a direção das partes do corpo; termos gerais, comuns a vários constituintes do corpo; e termos especiais, que denominam os diferentes constituintes do corpo. Até o fim do século XIX não havia acordo geral sobre os termos usados na anatomia.
Do primeiro esforço conjunto para criar uma terminologia anatômica padrão, realizado em Basiléia (1895), resultaria a Basle Nomina Anatomica (BNA). Com o crescente desenvolvimento dos conhecimentos anatômicos, várias propostas foram apresentadas para modificação e atualização da nomenclatura. A Nomina Anatomica aceita hoje, oficial e internacionalmente, é a de Paris, PNA, de 1955, complementada por vários congressos internacionais de anatomia. Ao lado da Nomina Anatomica existem as nomenclaturas histológica e embriológica internacionais. A nomenclatura anatômica oficial adota o latim, mas em uso corrente é traduzida para o vernáculo. A Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA), publicou e mantém atualizada a tradução da Nomina Anatomica para o português, revista por uma comissão mista Brasil-Portugal, por decretos e determinações dos governos de ambos os países.
Os termos constantes da nomenclatura anatômica têm, em geral, origem grega, latina, árabe ou híbrida, e encontram seu fundamento na forma do órgão ou parte dele (sela túrcica do osso esfenóide, músculo deltóide, ligamento redondo); em sua situação (artéria vertebral, nervo mediano); em suas conexões (ligamento acromioclavicular, músculo intercostal), em sua função (músculo extensor dos dedos, glândula lacrimal). Outros termos, de origens as mais diversas, muitas vezes impróprios, foram consagrados pelo uso e são conservados.
Os nomes dos autores que acompanham muitas designações devem ser excluídos, porque além de nada significarem morfológica ou funcionalmente, não representam, na maioria das vezes, justa homenagem histórica. Termos gerais são habitualmente abreviados: a. - artéria; v. - veia; n. - nervo; m. - músculo; lig. - ligamento; gl. - glândula; g. - gânglio. Estudo de anatomia O estudo, ainda que elementar, da anatomia humana, é feito em cadáveres de indivíduos adultos, considerados normais, mas deve incluir noções relativas aos fatores gerais de variação e às diferenças morfológicas decorrentes das modificações resultantes da passagem do estado de vivo ao de cadáver.
Em vista da relatividade dos conhecimentos que se podem obter pela dissecação de cadáveres, a qual representa um meio e não a finalidade da anatomia, os métodos de observação têm sido aperfeiçoados e deles se vale a anatomia para conseguir dados no próprio indivíduo vivo; assim, entre outros recursos, utilizam-se os raios X, a cinerradiografia, as drogas radioativas, aparelhos elétricos registradores e, para exame de órgãos cavitários, a endoscopia. Fatores gerais de variação em anatomia. São os seguintes os fatores gerais de variação em anatomia a considerar: idade, sexo, grupo étnico e biotipo. Idade. Verificam-se modificações anatômicas com o progredir da idade, nos diversos períodos ou fases da vida intra e extra-uterina. As fases de vida pré-natal ou intra-uterina são: (1) ovo ou germe, primeiras duas semanas; (2) embrião, até o fim do segundo mês; (3) feto, do terceiro ao nono mês.
Na vida pós-natal ou extra-uterina os períodos principais são os seguintes: (1) recém-nascido e período neonatal, primeira quinzena após o nascimento; (2) infância, até o fim do primeiro ano; (3) meninice, que inclui a segunda infância, entre os dois e cinco anos e a pequena puberdade, dos seis aos dez anos; (4) pré-puberdade, dos dez anos à puberdade; (5) puberdade (início de maturidade sexual), dos 12 aos 14 anos, muito variável nos seus limites e nos dois sexos; (6) pós-puberdade, da puberdade até cerca de 21 anos nas mulheres e 25 anos nos homens, passando por adolescente e jovem, sucessivamente; (7) virilidade, em que o indivíduo é adulto, atinge a maturidade, que perdura até a menopausa (castração fisiológica natural), aproximadamente aos cinqüenta anos na mulher e aos sessenta no homem; (8) velhice, até ao redor dos oitenta anos, seguido de senilidade. Sexo. O sexo masculino e o feminino apresentam caracteres próprios, correspondentes ao dimorfismo sexual. Grupo étnico. Compreende os grandes grupos raciais -- branco, negro e amarelo -- e os seus graus de mestiçagem, responsáveis por diferenças morfológicas externas e internas.
Biótipo. Refere-se ao tipo constitucional que existe em cada grupo racial. Há dois tipos extremos e um médio, além dos tipos intermediários. Nos tipos extremos é que melhor se notam as diferenças, quer nos caracteres morfológicos externos, quer nos internos, derivando das mesmas uma construção corpórea qualitativa e quantitativamente diversa. Os tipos extremos são denominados: (1) longilíneo -- indivíduos esguios, magros, altos, com pescoço longo, tórax achatado anteroposteriormente e membros longos em relação ao tronco; (2) brevilíneo -- atarracados, baixos, com pescoço curto, tórax tendendo para cilíndrico e membros curtos relativamente ao tronco. O normolíneo ou mediolíneo tem caracteres intermediários aos dois tipos extremos (éctipos). Além desses fatores de variação, existem as variações individuais, que vêm dificultar a aplicação prática dos conhecimentos anatômicos oriundos de uma descrição padrão. Normal em anatomia. Em medicina, normal significa, de modo geral, sadio, hígido.
No entanto, em anatomia, há que considerar os conceitos estatístico e idealístico. Pelo conceito idealístico, entende-se por normal o melhor para o desempenho da função, enquanto, pelo conceito estatístico, normal é o mais freqüente, ou seja, o que ocorre na maioria dos casos estudados e que serve de base para a descrição anatômica padrão. Isso significa que, embora haja uma constituição semelhante para todos os homens, existem diferenças de um indivíduo para outro, sem que seja prejudicado o bom funcionamento do organismo. Essas pequenas diferenças morfológicas, que aparecem e são encontradas em qualquer dos sistemas orgânicos, denominam-se "variações". Quando o desvio da normalidade é maior, podendo perturbar uma determinada função, denomina-se "anomalia". Por fim, se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do organismo, é denominada "monstruosidade", que pertence propriamente ao domínio da teratologia, isto é, ao estudo das aberrações dos seres vivos.
Divisão anatômica do corpo humano. O corpo humano é constituído fundamentalmente de cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça compreende crânio e face e une-se ao tronco por meio do pescoço. No tronco consideram-se o tórax, o abdome e a pelve, com as respectivas cavidades torácica e abdominal separadas entre si por um septo muscular, o diafragma. A cavidade abdominal prolonga-se na cavidade pélvica. Os membros, em número de quatro, dois superiores e dois inferiores, possuem uma parte radicular, cinta ou cintura do membro, pela qual se unem ao tronco, e uma parte livre. Na parte livre de cada membro superior consideram-se o braço, o antebraço e a mão, esta última com palma e dorso, e cinco dedos. Na parte livre do membro inferior consideram-se a coxa, a perna e o pé, este último com planta e dorso do pé, e cinco dedos. A parte radicular do membro superior é denominada espádua ou ombro; a do membro inferior denomina-se quadril.
Na transição do braço para o antebraço há o cotovelo; do antebraço à mão, o pulso ou punho; da coxa à perna, o joelho; e da perna ao pé, o tornozelo. Na parte posterior do pescoço, tronco e quadril, encontram-se, respectivamente, a nuca, o dorso, o lombo e a região sacrococcígea. Ladeando esta última, localizam-se as nádegas, regiões glúteas. Planos e eixos do corpo humano. A descrição anatômica do corpo humano baseia-se no indivíduo adulto, em posição ereta, isto é, em pé ou posição ortostática, com os membros superiores estendidos, aplicados ao tronco, os inferiores justapostos, e com a face, as palmas da mão e as pontas dos pés dirigidas para a frente.
Nessa posição anatômica de descrição, o corpo humano pode ser delimitado por planos e atravessado por eixos imaginários, a saber: (1) plano longitudinal, que divide o corpo em partes direita e esquerda, sendo que, se essa divisão for mediana, em metades direita e esquerda simétricas, o plano será sagital mediano; por qualquer outro plano sagital, paralelo a esse, será um plano lateral, direito ou esquerdo; (2) plano horizontal ou transversal, que separa o corpo em partes superior e inferior; há o transversal cranial, o transversal caudal, e todos os outros a eles paralelos; (3) planos frontais, ventrais ou dorsais, isto é, anteriores ou posteriores, e a eles paralelos; (4) a cada plano corresponde um eixo, tendo-se assim, eixos sagitais, anteroposteriores; eixos longitudinais, ou verticais, súpero-inferiores; e eixos transversais, laterolaterais ou destro-sinistros. Termos de posição em anatomia. Na descrição anatômica usam-se termos específicos para situar um órgão ou parte dele em relação a outros.
Medial significa que a estrutura está mais próxima do plano sagital mediano. Lateral indica posição mais afastada do plano mediano. Muitas vezes os termos medial e lateral também são usados para designar a posição relativa de duas estruturas: "o nervo é medial à artéria". Anterior pode significar a parte "da frente" do corpo, porém em sentido mais amplo refere-se também à posição mais próxima da frente do corpo.
Do mesmo modo, posterior refere-se às costas. Proximal e distal é a porção mais próxima ou mais afastada do centro. Cranial e caudal são termos indicativos de formações superiores (mais próximas da cabeça) ou inferiores (mais próximas da região caudal). Interno e externo, superficial e profundo, são outros termos de posição muito empregados em anatomia, assim como intermédio, isto é, que tem situação intermediária a duas outras estruturas ou formações ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

HISTÓRIA ANATOMIA EM TERAPIA OCUPACIONAL E EQUIPE

A Anatomia, suas características, aplicações e subdivisões
O termo anatomia (do grego anatémnein, "dissecar"), é atribuído tradicionalmente a um dos discípulos de Aristóteles, Teofrasto, que no século IV a.C. realizou as primeiras experiências para o conhecimento dos componentes isolados dos seres vivos. A anatomia é o ramo da medicina que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. Ela analisa, em termos descritivos, cada um dos diferentes níveis de organização dos vegetais, dos animais e do ser humano.
Subdivisões. Os componentes da matéria viva ordenam-se hierarquicamente. Assim, distinguem-se, em ordem ascendente, as organizações subcelulares, celulares, histológicas (de tecidos), orgânicas, de sistemas etc. Essa classificação, baseada no nível de organização da matéria viva, permite distinguir as três categorias de organismos que justificam a divisão da anatomia em vegetal, animal e humana. Considerando-se as várias perspectivas de investigação, tem-se diversas subdivisões de caráter didático, as mais importantes das quais são enumeradas a seguir.
A anatomia geral, ou descritiva, ocupa-se de isolar e descrever, pormenorizadamente, cada um dos componentes dos distintos sistemas anatômicos: raízes, caule, folhas e aparelho reprodutor, nos vegetais, e aparelho digestivo, respiratório, neuromuscular, genital etc., na área animal e humana. A anatomia topográfica estuda os órgãos e sistemas que compõem uma determinada parte do corpo. Já foram elaboradas, por exemplo, detalhadas análises anatomotopográficas da cabeça, do pescoço, da região abdominal e dos membros inferiores e superiores.
A principal área de aplicação desse ramo da anatomia é a cirurgia. A anatomia patológica estuda as modificações por que passam as células, tecidos e órgãos em decorrência dos diferentes processos suscetíveis de tratamento: doenças, defeitos congênitos ou traumatismos. Esse ramo da anatomia desenvolveu-se, sobretudo, com base em autópsias. No entanto, o progresso dos métodos de observação e das técnicas de anestesia tem contribuído para que os dados fornecidos por autópsias sejam complementados por exames em seres vivos (as biópsias).
Por fim, a anatomia comparada ocupa-se do estudo dos aspectos que permitem distinguir as diversas espécies animais ou vegetais, a partir de critérios puramente morfológicos. Seus resultados possibilitam definir as unidades que constituem o reino vegetal e o animal, e proporcionam o fundamento da taxonomia, ciência da classificação dos organismos vivos. Nesse domínio, intervêm ainda inúmeros aspectos descritivos relacionados com os restos fósseis e com as características embriológicas de cada espécie.
Dados históricos A ciência da anatomia desenvolveu-se muito lentamente. Sua história pode ser dividida em quatro períodos: (1) até a dissecção científica por Vesalius (1543); (2) até o advento da fisiologia científica com William Harvey (1628); (3) até a demonstração da unidade da vida por Charles Darwin (1859); (4) depois de Darwin.
Da antiguidade ao Renascimento. Foram os filósofos da antiguidade que, ao mesmo tempo que exerciam a "arte de curar", começaram a esboçar o estudo da anatomia. Não podendo utilizar o corpo humano para satisfazer sua curiosidade científica, visto que tal procedimento constituía então profanação religiosa, limitavam-se ao estudo das carcaças de animais domésticos e de macacos, neste último caso por serem esses animais os mais parecidos com o homem. Apesar do pouco valor científico de tais observações e descrições, tiveram o mérito de ser as primeiras a orientar de maneira científica o estudo da anatomia. Os embalsamadores chegaram a aprender alguma coisa de anatomia ao preparar as múmias, e os cirurgiões, ao tratarem os ferimentos. O papiro de Edwin Smith (3000-2500 a.C.) contém alguns dados sobre a anatomia da cabeça e do cérebro. Já o papiro de Ebers (1600 a.C.) contém maior quantidade de informações. Alguns trabalhos de anatomia foram atribuídos a Hipócrates, mas não há informação de que ele ou Aristóteles houvessem dissecado o corpo humano. Ambos imaginavam que o coração era a sede do intelecto.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

EQUOTERAPIA
Os efeitos da terapia com cavalos
Todos conhecem e admiram o valor do cavalo na vida de uma pessoa e o quanto tem sido útil para a evolução da humanidade. O que muitos não sabem é que o contato com esse animal pode também trazer benefícios às pessoas com deficiência, por meio da equoterapia. O cavalo é um animal dócil, de porte e força, que se deixa montar e manusear, transformando-se em um amigo para o praticante, que cria com ele um importante laço afetivo. Essa relação de confiança e cumplicidade é essencial na sua recuperação, proporcionando ganhos não apenas no aspecto físico como também psicológico, possibilitando à pessoa em terapia uma boa dose de motivação e auto-estima para seguir em frente e alcançar a sua reabilitação.
A ANDE-Brasil, Associação Nacional de Equoterapia, fundada há 17 anos e sediada em Brasília, é responsável pela capacitação nessa área, reconhecendo e ministrando cursos em todo o Brasil. A associação define a equoterapia como um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Na equoterapia, o animal é o objeto inter-mediador entre o praticante e o terapeuta. O contato com o cavalo propicia melhora na autonomia e independência. Além disso, promove a organização e a consciência do corpo, estimula a força muscular, melhora o equilíbrio, a postura e desenvolve a coordenação motora, entre outros.
Segundo o presidente da ANDE-Brasil, Lélio de Castro Cirillo, os profissionais que atuam na equoterapia são especializados em: Fisioterapia, Psicologia, Equitação, Terapia Ocupacional, Pedagogia, Psicopedagogia, Educação Física e Fonoaudiologia, entre outros. Sendo o mínimo para composição de uma equipe: fisioterapeuta, psicólogo e equitador.
INDICAÇÃO
A eqüoterapia é indicada para crianças e adultos, em diversos casos, como paralisia cerebral, acidente vascular cerebral (derrame), trauma crânio encefálico, lesões medulares, síndromes, autismo, psicoses, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), deficiência visual, deficiência auditiva, fobias, estresse, entre outros.
A terapia só pode ser indicada após avaliação médica, psicológica e fisioterapêutica. As sessões podem ser realizadas em grupo, porém o planejamento e o acompanhamento devem ser individuais.
É indispensável que o terapeuta conheça a patologia do paciente, o cavalo, as técnicas específicas a empregar nas áreas de saúde, educação e equitação e entenda as necessidades do praticante. Durante toda a sessão, o terapeuta ajuda a estimular a auto confiança, auto-estima, a fala e a linguagem. Promove, ainda, estimulação tátil, orientação espacial e temporal, memória, percepção visual e auditivas, equilíbrio e direção, entre outros.
Na equoterapia são oferecidos quatro programas destinados às diversas necessidades dos praticantes: 1) A Hipoterapia: um programa de reabilitação para pessoa com deficiência física ou intelectual, que não têm condições para se manter sozinha no cavalo. Necessita, portanto, de auxiliar - guia e auxiliar - lateral, que ficam junto e ao lado do praticante, acompanhados pelo terapeuta, que conduz a execução dos exercicios programados. 2) A Reeducação equestre: um programa de reabilitação ou educativo para quem tem condição de exerxer alguma atuação sobre o cavalo e conduzi-lo. 3) O Pré-esportivo: um programa de reabilitação ou educativo para quem tem boas condições para atuar e conduzir o cavalo. O praticante pode participar de alguns exercícios de hipismo. 4) Esportivo: aplicado também como reabilitação e educativo para quem tem boas condições para andar à cavalo, já podendo participar de competições hípicas. Todos os programas contam com a orientação dos profissionais.
O CAVALO E A TERAPIA
Cada passo completo do cavalo apresenta padrões semelhantes aos de caminhar humano e impõe um deslocamento da cintura pélvica (quadril) da pessoa quando ela está sobre o animal. A primeira manifestação física quando a pessoa anda à cavalo é o ajuste tônico, que se torna rítmico, com o deslocamento do cavalo em cada passo, ou seja, na medida em que o praticante anda à cavalo, há um ajuste natural do corpo, em que o movimento de seu quadril acompanha o ritmo do andar do cavalo. A adaptação a esse ritmo é uma das peças mestras da equoterapia.
O cavalo nunca está totalmente parado. A troca de apoio das patas, o deslocamento da cabeça ao olhar para os lados, as flexões da coluna, o abaixar e alongar do pescoço impõem ao cavaleiro um ajuste no seu comportamento muscular, a fim de responder aos desequilíbrios provocados por esses movimentos. Os deslocamentos da cintura pélvica produzem vibrações que são transmitidas ao cérebro do praticante, via medula, o que já foi apontado ser adequado à saúde, por trazerem reações de “endireitamento” do corpo, ajustando a postura e melhorando seu equilíbrio.
É preciso um animal especial e adestramento para atuar nessa terapia, chamado de “cavalo-tipo”, com andadura correta. O cavalo é trabalhado para aceitar os comandos de uma pessoa com deficiência. Os cuidados dispensados ao animal são os mesmos relativos aos cuidados básicos de um cavalo comum, com diferenças apenas na alimentação. Em geral, consome alfafa, feno e capim (proteínas), além de uma ração específica com nutrientes necessários para seu bem-estar.
A segurança física do praticante deve ser uma preocupação constante de toda a equipe, com atenção especial ao comportamento e atitudes habituais do cavalo e às circunstâncias que podem vir a modifica-los. O local das sessões também merece atenção para evitar ruídos anormais que venham assustar os animais.
CUSTO X BENEFÍCIO
De acordo com a psicopedagoga Liana Santos, os ganhos motores e psicológicos são visíveis e os resultados podem aparecer em 6 meses de montaria, com sessões semanais de em média 40 minutos. As dificuldades ainda são a falta de informação sobre a existência do método e o tabu de se tratar de uma terapia. Na rede particular, pode custar em torno de R$ 280,00 a R$ 400,00 por mês, com sessões semanais. Todos os centros de eqüoterapia, filiados a ANDE-BRASIL, reservam 20% de seus atendimentos para pessoas que não podem pagar. As informações sobre a disponibilidade dessas estão no site http://www.equoterapia.org.br/. É só conferir os centros e entrar em contato.

Texto extraído: AMORIM, T.S. Importância da equipe multiprofissional para o desenvolvimento do praticante no recurso terapêutico equoterápico. Monografia (Graduação em Terapia Ocupacional)- Faculdade de Minas. Muriaé, 2008. (11-15)

2.1 Histórico da Equoterapia

De acordo com os relatos de MARINS(1996), historicamente o uso do cavalo vem sendo utilizado terapeuticamente desde 458-370 a.C. quando Hipócrates aconselhava o uso do cavalo para “regenerar a saúde e preservar o corpo humano de muitas doenças, mas, sobretudo, para o tratamento da insônia” de seus pacientes. O primeiro registro de atividade realizada com o cavalo foi no Hospital Ortopédico de Oswentry (Inglaterra), onde uma dama da sociedade tomou a iniciativa de levar o cavalo para quebrar a monotonia, já que no hospital não oferecia nem um tipo de atividade.
UZUN (2005) descreve o primeiro registro do uso do cavalo como instrumento terapêutico, em 1946 quando uma praticante de equitação contraiu aos 16 anos uma poliomielite, onde comprometeu os movimentos dos membros inferiores, mas mesmo assim ela continuou a praticar a equitação, e em 1952 conquistou o título de vice-campeã disputando as Olimpíadas de Helsink. O público só percebeu sua dificuldade quando ela desceu do cavalo para subir ao pódio, e assim ela repetiu este episódio por muitas vezes.
Um grupo de brasileiros, no ano de 1988, segundo relatos da ANDE-Brasil
[1] (2004), realizou uma viagem até a Europa a fim de estudar, observar e aprofundar sobre a utilização do cavalo como recurso terapêutico. E foi em 10 de maio de 1989 que surgiu a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA – ANDE BRASIL, situada na Granja do Torto, em Brasília.
Em
09 de abril de 1997, a equoterapia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina - parecer nº 06/97- como método de reabilitação motora, que diz:


“Pelo reconhecimento da Equoterapia como método a ser incorporado ao arsenal de métodos e técnicas direcionados aos programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais (...) Pela estratégia traçada pela ANDE BRASIL e dentro da legislação brasileira há necessidades de comprovação científica, feita por profissionais brasileiros, e dentro do que prescreve a resolução nº 196/96, do conselho Nacional de Saúde, que trata de normas de pesquisa envolvendo seres humanos.” (Conselho Federal de Medicina, 1997).

Desta forma percebe-se que a equoterapia se tornou uma técnica totalmente relacionada a programas de reabilitação, e tem objetivos específicos delineados pela ANDE – BRASIL, abrangendo seres humanos.

2.2 Definição

De acordo com LERMONTOV (2
004), equoterapia é um método inovador de reabilitação e reintegração biopsicosocial para indivíduos comprometidos, que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho, realizando técnicas de equitação e os recursos de uma equipe multiprofissional.

“A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de Saúde, Educação e Equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou de necessidades especiais.” (ANDE BRASIL, 2004)


A ANDE - Brasil (2004) ressalta vários benefícios ao paciente, tais como trabalho do déficit de atenção e concentração; aprendizado através do brincar; socialização, estímulos contínuos e variados; nas áreas de reabilitação física, mental, educativa e social.

2.3 Nomeclatura


FRAZÃO (2001) descreve que a nomenclatura Equoterapia foi criada pela ANDE BRASIL e abrange todas as atividades que envolvem o cavalo, sendo elas na área esportiva, educacional ou terapêutica. Basearam-se em situações históricas para criar a nomenclatura, que foi registrada em 1999, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio.
“A Nomenclatura é uma discussão nacional. Acreditamos que equitação terapêutica seja o nome mais adequado para esta atividade, porque qualquer pessoa reconhece o cavalo direcionado para uma atividade terapêutica.” (FRAZÃO, 2001).


Este tema tem sido desconhecido por autores em congressos internacionais, que de acordo com o relato afirmam ainda não ser a nomenclatura adequada.


2.4 Cavalo


A ANDE-BRASIL (1999), descreve o cavalo ideal para às atividades equoterápicas sendo como aquele de movimento rítmico, preciso e tridimensional, que ao caminhar se desloca para frente / trás, para os lados e para cima / baixo, podendo ser comparado com a ação da pelve humana no andar, permitindo a todo instante entradas sensoriais em forma de propriocepção profunda, estimulações vestibular, olfativa, visual e auditiva.

(Fonte: Centro de Equoterapia Santa Terezinha)

“O estudo deste binômio – o portador de deficiência e o cavalo – não permite colocar em evidência uma raça especial de cavalo. No entanto, algumas características básicas deverão ser levadas em consideração...” (ANDE BRASIL, 1999).

A escolha do cavalo na equoterapia deve ser de total atenção, sendo que não exige a raça própria, mas sim que o animal seja dócil, não se assuste com ruídos, realizar as três andaduras (passo, trote, galope), tenha uma dinâmica com o cavaleiro, obedecer ao comando das rédeas, a voz, aceitem carona, entre outros.

2.5 Programas básicos de equoterapia

ANDE-BRASIL (2004), descreve que, centros de equoterapia localizados na Itália e França adotam momentos fundamentais no uso do cavalo. Associação Nacional de Equoterapia espelhou-se nestes países e desenvolveu quatro programas básicos para o tratamento terapêutico, sendo eles:

1) Hipoterapia: programa de reabilitação, que atende a pessoas com deficiência física e/ou mental. O praticante não tem condições de montar sozinho, precisando de algum auxiliar. Neste caso, o cavalo é visto como um instrumento cinesioterapêutico.
2) Educação/reeducação: é um programa de reabilitação e educacional e o praticante tem condições de manter algum tipo de ação sobre o cavalo, menos dependente dos auxiliares. O cavalo é visto como instrumento pedagógico.
3) Pré – esportivo: Também um método de reabilitação e educacional e o praticante já têm condições de conduzir o cavalo e participar de alguns exercícios que fazem parte do hipismo. O cavalo é visto como instrumento de inserção social.
4) Esportivo: tanto um método de reabilitação e educacional quanto pode ser uma ação de melhoria da qualidade de vida, bem estar e lazer podendo o praticante participar de competições hípicas.
Quando os praticantes portadores de deficiência física optam pelo programa de acordo com HARTEL (1946), poderão praticar o hipismo e vir a competir em provas hípicas na Paraolimpíadas, até mesmo nas Olimpíadas.
Compara-se desta forma a eficácia do programa na inserção social destes praticantes.
[1] É uma sociedade civil, de caráter filantrópico, terapêutico, educativo, cultural, desportivo e assistencial, sem fins lucrativos, com atuação em todo o território nacional, tendo sede e foro em Brasília/DF.

A intervenção terapêutica ocupacional, no contexto equaterápico em crianças com Síndrome de Down.

A intervenção terapêutica ocupacional, no contexto equaterápico em crianças com Síndrome de Down.

A Síndrome de Down (SD) é um acidente genético de causa desconhecida, que ocorre aproximadamente a cada um ou dois nascimentos em mil, sendo conhecida como a Trissomia do Cromossomo 21, isto porque, cada célula do indivíduo possui 46 cromossomos divididos em 23 pares. Logo, neste caso o indivíduo com esta síndrome, no seu par de números 21, possui um cromossomo a mais resultando em 47 cromossomos1. Ë caracterizada, por uma história natural e aspectos fenotipicos bem definidos, sendo causado pela ocorrência de três cromossomos 21 (trissomia), um a mais do que o normal na sua porção fundamental (BARRETO, et al, 2007).
A síndrome de Down é uma desordem genética que pode causar deficiência mental, sendo leve, moderada ou severa, também conhecida como trissomia 21 ou mongolismo. Dentre as características clínicas apresentadas pela Síndrome de Down pode-se destacar: atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, hipotonia muscular, déficit na coordenação motora; déficit no equilíbrio (BARRETO, et al, 2007).
Equoterapia é considerada como um conjunto de técnicas reeducativas que agem para superar danos sensoriais, motores, cognitivos e comportamentais, utilizando para isto, atividade lúdico-desportiva, tendo como meio o cavalo (MACHADO, 2001).
A função do Terapeuta Ocupacional na equoterapia é analisar esta atividade com o propósito de objetivar o processo interventivo a ser usado, além de facilitar, estimular e mediar à relação terapêutica, buscando a codificação e o significado nas diferentes experiências, permitindo assim, ao praticante, aprender novas tarefas de forma eficiente (GONÇALVES, 2008).
Quando uma criança nasce com algum tipo de deficiência ou apresenta alguma complicação na infância, passa por inúmeros profissionais da saúde sendo submetidas a exames, atendimentos e intervenções vistos como invasivos e traumáticos, quando seu aparato intra-psíquico ainda se encontra em formação, com poucas condições de elaboração de suas vivências (FERRARI, 2003).
Segundo Vash (1988) a pessoa portadora de deficiência experimenta uma sensação de perda das habilidades funcionais, quando esta é adquirida.
Kovács (1997) acrescenta que na deficiência adquirida estão associadas às vivências de morte em vida, mudanças corporais, desfiguramento, alterações na potencionalidade de realização do sujeito na vida pessoal e profissional podendo implicar situações semelhantes ao processo de perda por morte, citadas por Kubler-Ross (1969) como choque, negação, raiva, barganha, depressão (compreensão da dimensão da perda) e aceitação (possibilidade de convivência com a deficiência).
A deficiência afeta o desenvolvimento, a aprendizagem, as relações familiares e a organização dinâmica da personalidade (FERRARI, 2003).
Para Kassar (2000) é grande o estigma referente às pessoas com deficiência, independente das potencialidades individuais, pois há idéia de incapacidade e invalidez, comprometendo a possibilidade de realização profissional, afetiva, educacional e política.
AJURIAGUERRA (2005, p. ) esclarece que:

“O desenvolvimento afetivo de crianças portadoras de paralisia cerebral está alterado devido as dificuldades pessoais em adquirir conhecimentos, dificuldades para se relacionar, necessidades afetivas de sentir a confiança da família e do meio, ser considerado pelas pessoas, receber e dar afeto, sentir-se segura em um ambiente estável.”

Quando a criança é vítima de preconceito há alteração na relação consigo mesma, com os outros, na escola, criando expectativas quanto às capacidades ou exigindo desempenho fora de suas potencialidades, ficando limitada e assim, não pode conhecer e explorar o mundo. (FERRARI, 2003)
Os princípios da atividade equoterápica deve se basear em fundamentos técnico-científicos, sendo que o atendimento equoterápico só poderá ser iniciado mediante parecer favorável em avaliação médica, psicológica e fisioterápica. (FERRARI, 2003)
As atividades equoterápicas devem ser desenvolvidas por equipe multiprofissional com atuação interdisciplinar, que envolva o maior número possível de áreas profissionais nos campos da saúde, educação e equitação.As sessões de equoterapia podem ser realizadas em grupo, porém o planejamento e o acompanhamento devem ser individualizados (ANDE-BRASIL)
Para acompanhar a evolução do trabalho e avaliar os resultados obtidos, deve haver registros periódicos e sistemáticos das atividades desenvolvidas com os praticantes, como: A ética profissional e a preservação da imagem dos praticantes de equoterapia devem ser constantemente observadas; o atendimento equoterápico deve ter um componente de filantropia para que possa, também, atingir classes sociais menos favorecidas, para não se constituir em atividade elitizada. (ANDE-BRASIL)
A segurança física de o praticante dever ser uma preocupação constante de toda a equipe, tendo em vista o comportamento e atitudes habituais do cavalo e às circunstâncias que podem vir a modificá-los, como por exemplo, uma bola arremessada ou um tecido esvoaçando, nas proximidades do animal pode assustar o cavalo. A segurança do equipamento de montaria, particularmente correias, presilhas, estribos, selas e manta devem ser verificados, além da vestimenta do praticante, principalmente nos itens que podem trazer desconforto ou riscos de outras naturezas. O local das sessões não pode ter ruídos excessivos ou anormais, pois poderá assustar os animais. (MATTOS, 2007)
Texto extraído: PIMENTA, J.B. A Intervenção Equoterápica em Criança com Síndrome de Down. Monografia (Graduação em Terapia Ocupacional)- Faculdade de Minas. Muriaé, 2008. (p. 18-20)






Artigos

Estágio Hasimsa

A Ahimsa foi criada por um grupo de 26 profissionais que atuavam há mais de dez anos com pessoas surdocegas e deficientes múltiplos em outro município. Visando expandir e implementar esse trabalho no município de São Paulo. A instituição, que foi fundada em 04 de março de 1991, iniciou o seu atendimento apenas com trabalho domiciliar e, mais tarde, complementou com atendimento educacional na escola.

A Instituição realiza atendimento educacional para crianças, jovens e adultos com deficiência múltipla sensorial e surdocegueira, visando a sua inclusão na sociedade, oferecendo qualidade de vida a essas pessoas. Sua missão é favorecer e qualificar o desenvolvimento das pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla sensorial, promovendo a inclusão social.


Programa GAI - Grupo de Atendimento Infantil
(Intervenção Precoce e Educação Infantil)
Programa - Mães mediadoras
Este programa é desenvolvido em parceira com a família, isto é a família participa do atendimento visando estruturar e organizar as rotinas diárias de seus filhos, melhorando e criando oportunidades para desenvolvimento dos diferentes sistemas comunicação, promovendo o desenvolvimento da linguagem e qualidade de vida , incluindo-os família.
Público alvo: Pessoas com Surdocegueira e Deficiências Múltipla-Sensoriais da Faixa etária de 0 a 03 anos e meio.
Programa Caminhando
Este programa visa atender principalmente alunos com surdocegueira e deficiência múltipla sensorial que estão em momento de transição para inclusão em escolas e ou EMEI.
Público alvo: Alunos surdocegos ou Deficientes Múltiplos Sensoriais na faixa etária - 3 ½ a 6 anos.


Porgrama Funcional
Funcional I
Neste programa as atividades são centradas nas necessidades de cada aluno com a finalidade de ser funcional em sua vida atual e futura. (abordagem do currículo funcional).
Público Alvo: Alunos com surdocegueira e pessoas com Deficiências Múltipla-Sensoriais na Faixa etária 07 a 10 anos.
Funcional II
As atividades são centradas nas necessidades de cada aluno com a finalidade de ser funcional em sua vida atual e futura. (abordagem do currículo funcional). Promovendo a autonomia e qualidade de vida visando à inclusão social (escolas, CEU, etc.).
Público alvo: Alunos com surdocegueira e com deficiências múltipla-sensoriais na faixa etária de 10 ½ a 14 anos.

Programa de Transição para Vida Adulta
Este programa tem a finalidade de favorecer a inclusão dos alunos na comunidade em atividades vocacionais.
Público alvo: Jovem e adulto com surdocegueira e com deficiências múltipla-sensoriais que freqüentam os programas da instituição na faixa etária de 15 a 22 anos.

Programa Oportunizar
Este programa visa o atendimento educacional em pequenos agrupamentos de casos que já tenham freqüentado atendimento especial sem evolução acadêmica e profissional.
Público alvo: Alunos surdocegos e ou com deficiência múltipla na faixa etária acima de 18 anos e ou na faixa etária de 15 a 18 anos que iniciaram sua vida escolar com idade avançada e apresentam dificuldades de autonomia e independência.

Programa Ícaro
Este programa visa o atendimento (surdocegas e deficientes múltiplos) que não freqüentaram anteriormente qualquer programa educacional ou terapêutico e ou freqüentam ou freqüentaram programas educacionais não específicos para a deficiência múltipla sensorial ou surdocegueira.

Programa Fênix
Atendimento com as famílias de pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla-sensorial na faixa etária de 09 a 13 anos e pessoas com a idade acima de 17 anos.

Apoio Pedagógico
Apoio aos alunos que estão inseridos no ensino regular.

Reabilitação
Para pessoas que adquiriram a surdocegueira.

Avaliação Funcional
Este programa visa o atendimento inicial com as famílias que procuram um programa e ou encaminhamentos (saúde, equipamentos e etc..) para seus filhos com surdocegueira e ou com deficiência múltipla- sensorial, bem como o atendimento de casos que encaminhados pela Secretaria Municipal e Estadual de Educação, hospitais, Instituições, Escolas da rede municipal e Estadual, Recursos da Comunidade e Profissionais
O atendimento é individualizado com profissionais da Equipe Técnica (Serviço social, Psicologia e Pedagogas) para coleta de dados e avaliação funcional do desenvolvimento da pessoa para organização de programas ou encaminhamentos.

Trabalho com Famílias
Projeto AD&FA- Atendimento Domiciliar & Famílias Apoiadas (em parceria com a ABRAPASCEM e Projeto Canteiros)
Este programa destina-se a alunos com surdocegueira e com deficiência múltipla sensorial que apresentam problemas de saúde graves: como distúrbios emocionais ou psiquiátricos e ou alunos que apresentam problemas de saúde e motores muitos graves que impossibilitam o transporte por períodos longos que prejudicam sua saúde ou dependentes de equipamentos para respiração e alimentação, bem como para alunos de idade acima de 15 anos, que não receberam nenhum tipo de atendimento e que se encontram em total isolamento na família sem comunicação e independência para as atividades de vida diária.

Projeto Parceria com Famílias
Confecção de tecnologia assistiva em papelão para pessoas que apresentam a associação da deficiência neuromotora visando promover condições adequadas e a confecção em baixo custo.
Apoio:

Grupo de Mães
Esta atividade tem como objetivo a troca de vivências e experiências práticas, palestras informativas como, por exemplo: saúde, educação, nutrição e etc., orientação nas rotinas diárias e planejamento de atividades que apóiem o futuro do filho e o resgate da autoestima da mãe e/ou responsável, bem como o apoio emocional para superar as dificuldades do dia-a-dia.

Programa GOSPEL - Grupo de Orientação e Sugestão para Pais de Estratégias no Lar:
Esta atividade tem como objetivo de orientar, discutir e construir juntos as atividades que favoreçam as rotinas do lar e construção de materiais para favorecer o desenvolvimento de comunicação.
Apoio:

Grupo de Comunicação
Oficina que favorece aos pais possibilidades de aprender diferentes sistemas de comunicação, promovendo a comunicação eficiente com seus filhos.

Recreio nas Férias
Este programa visa favorecer e desenvolver a recreação e o lúdico para as pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla sensória e seus familiares.

Durante as aulas da disciplina de Prática em Terapia Ocupacional, este semestre nos foi proposto visitar uma instituição com o objetivo de realizar uma intervenção. A instituição  escolhida foi a Ahimsa .

O aluno que nos foi apresentado é o Ryan S.S de sete anos, sempre acompanhado pela sua cuidadora Maria (tia). O mesmo começou a freqüentar a instituição há quatro anos.

Segundo a cuidadora, sua irmã Bernadete (mãe de Ryan), tentou interromper sua gravidez e tomou chá de maconha com dois meses de gestação, e que “o menino nasceu preto” (sic Maria). Também relatou que o possível diagnóstico da criança seria hidrocefalia, porém no prontuário da instituição foi encontrado como possíveis diagnósticos: atraso DNPM, deficiência intelectual, suspeita de toxoplasmose, alteração visual, neuropatia auditiva, microcefalia, retardo mental (CID - F71), síndromes epiléticas (CID – G40).

Dona Maria diz que quando Ryan nasceu levou o mesmo e sua mãe para morar em sua casa, já que seu pai não demonstrou interesse por ambos. Com seis meses foi constatado uma baixa visão e Ryan começou a usar óculos. Atualmente seu grau é de aproximadamente quatro graus e meio e cinco graus.  Com um ano de idade teve sua primeira convulsão e foi medicado com Gardenal, hoje continua com o mesmo medicamento e também faz uso de Depaquene.

Após alguns anos de seu nascimento sua mãe decidiu ir embora para Alagoas e deixou o mesmo sob a guarda de sua tia e de seu marido, que o menino considera como mãe e pai respectivamente.  Sua mãe vem visitá-lo a cada quinze, porém sua tia relata que o menino não se sente á vontade com a mãe. Seu pai mora próximo a casa de Ryan, porém não tem contato com o menino, dá uma pensão de R$150,00 , mas “demora muito para pagar” (sic Maria).  A tia também diz que sua família o descrimina e não tem contato com o mesmo.

O Ryan já freqüentou a instituição Laramara por um ano, hoje freqüenta a Ahimsa duas vezes por semana ( quarta e quinta feira) no período matutino. Dona Maria diz que quando o mesmo não vai para Ahimsa o menino brinca de carrinho, assiste televisão e dorme no período vespertino.  

Segundo relatório institucional a criança possui dificuldades em se concentrar e se manter focado em uma atividade, que se comunica por gestos e expressões, porém o choro é muito freqüente, principalmente quando demonstra raiva e irritação, também possui dificuldade em seguir regras determinadas quando é feito algum jogo.

A queixa da tia é que Ryan pare de usar fraldas, e que se alimente sozinho, pois  consegue levar a colher até a boca, porém não consegue colocar a comida na colher. Ao questionar a tia se já foi feito treino ou tentativas de tirar a fralda, ela diz que sim, mas que ele não consegue se comunicar quando sente necessidades de ir ao banheiro e que “seria preciso ficar ao lado dele o dia inteiro e que isso não é possível” (sic.)

Diagnóstico Médico:
Perda visual, atraso no desenvolvimento e disfunções de funções auditivas.
Microcefalia, neuropatia e audiopatia, retardo da maturação, síndrome convulsiva.
Disfunções no tronco auditivo.
Retardo Mental – G40 e F 71.
Análise da Atividade:
* Adaptar a colher e o prato com desenhos de carrinhos. Desenho que estimule a alimentação.
* Estimular o brincar e o lúdico.

Objetivos:
Trabalhar com a Tia para que possa ser uma ponte de ajustamento do Ryan e poder ajudá-lo a ser mais independente nas atividades de vida diária.
 Fazer uma colher adaptada para ajudá-lo na alimentação. Confeccionar um prato com adaptação e desenho para que de mais prazer na hora da alimentação e estimulá-lo a se alimentar e instruir a tia a dar alimentos mais sólidos.